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terça-feira, 24 de novembro de 2015

O VAZIO


Baseado no texto de Salmo 46.10

Diz a lenda que Alexandre, o Grande, queria a todo custo entrar no Santo dos Santos, no templo construído por Salomão. Ali, havia uma câmara onde os judeus diziam que Deus manifestava a sua glória. O rei macedônio andava curioso para conhecer esse Deus. Depois que devassou a cidade e o templo, ele se decepcionou: o lugar era um mero espaço vazio, escuro e profundamente silencioso. Alexandre não conhecia místicos de várias tradições da espiritualidade. Muitos haviam intuído que o vazio é sagrado e o nada guarda mistério.

Salmo 46.10: Aquiete-se. Só assim você vai perceber que sou Deus. Sinto a necessidade de inundar a mente, feito menino, com perguntas sem fim: Por que existe alguma coisa e não o nada? Os confins do universo possuem margem? Por que, no processo evolutivo, os humanos desenvolveram a angústia? A realidade, nos sonhos, que expõe o universo do inconsciente, não seria ainda mais real do que o mundo consciente?

Enquanto martelo essas indagações, imagino poder alcançar a resposta aos por quês. Sentado ou correndo, penso, penso, penso.  Mesmo sabendo que nunca me satisfarei com a imensidão do mistério que me envolve, não descanso a curiosidade. Quero respostas não para o como das coisas, necessito tocar o imensurável com os meus desesperados por quês.

Semelhante ao imperador, não sei lidar bem com o vazio sagrado. Loto meus dias de barulho. Vivo apressado. Não ter que conviver com o nada parece ter força de aliviar o medo da morte. Divertimento, no sentido filosófico, vira narcótico – miçanga de uma felicidade real. Se o imarcescível só é percebido no vazio, preciso exercitar o que o profeta aconselhou: Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor… Assente-se solitário e fique em silêncio [Lamentações 3.26-28].

Contudo, precisamos de respostas. E o texto dá as respostas necessárias.  Precisamos nos aquietar.
Quando enfrentamos dificuldades em nossa vida que fazem parecer como se estivéssemos num navio que está sendo jogado de um lado a outro num mar tempestuoso, como podemos permanecer calmos enquanto uma tempestade se enfurece ao nosso redor?

FIQUE CALMO!!!!!!COMO?
1.    LIVRE-SE DOS RUÍDOS

·       Não há como estar calmo ouvindo barulho. Quanto mais você ouve os murmúrios, mais nervoso ficamos. Quanto mais barulho, mas stress.
·       Quanto mais barulho, menos você ouve a voz de Deus. PARE!!! OUÇA A VOZ DE DEUS!!! DEIXE ELE FALAR.

2.    LIVRE-SE DA TEMPESTADE
·       Não significa que a tempestade tenha passado, mas que a tempestade já não está mais dentro de você. Ao redor a tempestade pode ser terrível e destruidora, mas dentro de você reinará a paz. Não uma paz baseada na alienação, do fazer de conta que não está havendo nada, mas a paz baseada na confiança de que Jesus está contigo no barco e ele não vai naufragar.

3.    LIVRE-SE DAS INTERRUPÇÕES
·       Os problemas da vida nos fazem parar. Parar de orar, parar de ler a palavra, parar de buscar. Quando paramos, o mundo continua. Quando interrompemos o que estamos fazendo, ficamos para trás.
·       A obra deve continuar. Filme O Último Samurai
·       Nada na mente – NÃO PARE O QUE ESTÁ FAZENDO POR CAUSA DAS PESSOAS! NÃO FIQUE PARA TRÁS!
7 VIRTUDES DO BUSHIDO : JUSTIÇA, COMPAIXÃO, BRAVURA, POLIDEZ, SINCERIDADE, HONRA, LEALDADE
“Eu não tenho espada, faço da perseverança a minha espada”

4.    OLHE PARA DENTRO DE VOCÊ : Ezequiel, o profeta bíblico, comeu um livro repleto de lamentos, prantos e ais. Depois de encher a barriga, afirmou: Eu o comi, e na boca me era doce como mel. [3.3]. Como pode um livro de lamentos ser doce na boca de alguém? Muito estranho alguém gostar de prantear.
         Ezequiel precedeu a fala de Jesus: Felizes – bem-aventurados – o que choram porque eles serão consolados. Os que choram conseguem não apenas aliviar as dores do coração; desafogam não só imperativos triunfais. É feliz quem pode expressar angústia sem o patrulhamento dos insensíveis. Alguém já disse que poeta só é poeta se sofrer. É possível dizer também: profeta só é profeta se aprende a lamentar.

O Tao também ensina:
Trinta raios unem um eixo,
A utilidade da roda vem do vazio.
Queima-se o barro para fazer o pote.
A utilidade do pote vem do vazio.
Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
A utilidade do quarto vem do vazio.

SABEI QUE EU SOU DEUS!!!

Todos os nossos pecados foram pagos na cruz do Calvário. Tudo foi consumado! Tudo foi resolvido. O sangue nos purificou. O sangue nos salvou.
Estamos livres.
O vazio é então preenchido. E não existirá mais.


Quem sabe, a resposta às grandes perguntas da vida habite a coragem de conviver com o vazio. Nada nos inquietar, senão com nosso próprio enigma, talvez ajude. A solução que tanto procuramos pode vir não da racionalidade, mas da noite escura do não-saber. Como ensinaram os místicos, o convívio com as profundezas de nosso interior deve bastar. A não-resposta, a não-solução e o não-sei se irmanam à razão para nos deixar na companhia do essencial.

O mistério da vida talvez venha do convívio tranquilo com o que não dominamos. Quem sabe, longe das demandas da competência, sem as vozes da onisciência, consigamos conquistar o abismo que nos impede de achar o verdadeiro eu - e com ele, o sagrado. No templo de Apolo em Delfos, lia-se: Conhece-te a ti mesmo. Mais tarde, a mesma frase foi atribuído a Sócrates com um complemento: Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.


Jesus de Nazaré avisou: quem quiser ganhar a vida vai perdê-la e quem ousar perder a sua vida vai ganhá-la. Em outras palavras: se temos coragem de nos esvaziar da arrogância de tudo possuir e tudo saber, podemos intuir o inaudível, sentir o imperceptível e experimentar o indescritível. No silêncio, desvelamos nossa pessoalidade – que nos singulariza em um universo impessoal. Não seria precisamente esse o maior de todos os segredos?

domingo, 8 de novembro de 2015

Isto é o meu corpo?



Em que estado encontramos o corpo de Cristo? Quantas guerras interdenominacionais temos presenciado? A idolatria pelo "corpo" de Cristo tem minado a fé de muitas pessoas. Valorizam muito mais a placa da igreja local do que a Igreja em si. Por outro lado, há os que não entendem que fazem parte desse corpo e não podem andar sozinhos, independentes. A verdade é que precisamos uns dos outros. Isso é ser corpo.
Entretanto, que significado tem o corpo de Cristo? Em Lucas, Jesus compara seu corpo ao pão. O corpo é pão. O pão é corpo. O corpo é alimento. O pão é alimento. O corpo é a Igreja. A Igreja é o pão. PRECISAMOS DE PÃO, POIS A FOME VEM. Precisamos do corpo porque sentimos fome. Quantas vezes o vazio tenta se apoderar de nós? Falta de pão. Falta de se sentir corpo. Falta de unidade. Quando não nos sentimos um pedaço desse pão, não entendemos o que é corpo.
Passamos a vida inteira reclamando do nosso pão, do corpo. Devemos aprender a AGRADECER PELO PÃO. Por que não damos graças? Por que não agradecer, ao invés de reclamar? Por que não reconhecer o processo pelo qual nosso pão foi fabricado? É necessário entender que o trigo foi semeado, foi regado, foi arado, passou por todos os processos para virar pão, que veio do forno e que deve ser sem fermento. Quantas metáforas. Não precisamos de aditivos para virarmos pão. O corpo de Cristo não precisa de enfeites, grânulos de gergelim ou outros apetrechos para que seja comível. O pão deve ser sem fermento.
Devemos ser pão. Não importa se somos casca ou miolo. Sejamos pão. Agradeçamos ao lugar onde Deus nos colocou para alimentar pessoas.
Contudo, o texto de Lucas diz que Jesus repartiu o pão. O corpo é repartido. Cada um tem sua função, sua razão de estar à mesa. O corpo era de Cristo, mas Ele o repartiu. Os fragmentos se espalharam, sem deixar de ser corpo. O pão foi separado, mas não deixou de ser pão. A questão é essa. Enxergamos apenas a parte de um todo, como cegos tocando um elefante em partes diferentes. Nossas igrejas podem até ter doutrinas diferentes, dogmas diferentes, podem usar roupas diferentes, estilos variados, mas não deixamos de ser do mesmo pão, do mesmo corpo. O PÃO É REPARTIDO, MAS NÃO DEIXA DE SER PÃO.
Além disso, Jesus disse que o corpo nos foi dado. Às vezes, com desprezo, sem entender o processo, sem provar antes, sem nem sequer reconhecer nossa fome, nos perguntamos com um ar arrogante: ISTO É O CORPO? ISTO AÍ? CHEIO DE DEFEITOS? CHEIO DE PESSOAS PROBLEMÁTICAS? Entretanto, algo não podemos negar. O pão que temos nos foi dado por nossa causa, porque precisávamos dele. A Igreja, a comunhão é necessária, é imprescindível. Jesus nos deu a Igreja. Jesus nos deu o seu corpo para que passássemos a ser o seu Corpo. Ao olhar para a Igreja, devemos ver Jesus. Que Jesus estamos exibindo ao mundo? Que Corpo de Cristo temos mostrado? Jesus pergunta hoje: ISTO É O MEU CORPO?
A Igreja é o corpo glorificado de Cristo, vivo. Contudo, passa pela etapa da cruz. Sofre perseguição, é ferida, atacada, mas vence a morte. Essa é a Igreja. Esse é o Corpo.
O que fazemos é EM MEMÓRIA DELE. Como Igreja, nós lembramos Jesus? Nós o homenageamos ou o envergonhamos? Sua memória é preservada quando entendemos a cruz, não ouvimos os gritos da multidão enfurecida e, principalmente, quando perdoamos. Se não soubermos perdoar, nunca seremos Igreja, nem Corpo, nem pão. É isso que queremos?

Só pela graça,

João Victor

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A verdadeira paz existe?


Quando pensamos em paz, algumas imagens vêm à nossa cabeça. Um lago entre as montanhas num dia ensolarado, calmo, com pássaros voando e uma criança sentada com os pés imersos na água. Uma música como a obra prima de Dolores Duran "A noite do meu bem", cuja letra é uma das mais belas poesias já escritas.

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero a "paz de criança dormindo"
Quero a ternura de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Enfim, essa imagem de paz se contrasta com alguns Salmos da Bíblia. Textos angustiados, almas em tempestade. Paranóias de perseguição.
Sl.69:1 - "Salva-me oh Deus, pois as águas subiram ao meu pescoço"

Nessa tensão entre o desejo de paz e a angústia, a gente envelhece. Envelhece por dentro. Não tem a ver com a idade. Esse envelhecimento está relacionado com a angústia que a vida gera. A angústia de se sentir atolado, sufocado, pelos problemas e dificuldades. São mães que educam os filhos e hoje se sentem cansadas. São homens que trabalharam a vida inteira, mas nunca conseguiram conquistar nada de positivo. São pastores que se matam pela igreja, mas só vêem cobranças e descompromissos. A realidade é que a vida não é um pic-nic e a roda gira. O drama humano é pesado. Nessa luta diária, como encontrar a paz?

Em primeiro lugar, precisamos perceber quando estamos fadigados. Quando chega a exaustão, é hora de pedir socorro. A partir dessa percepção, tomamos algumas atitudes para trazer a paz de volta ao nosso coração aflito. Precisamos ter bons pensamentos a respeito de Deus. Essa é uma questão importante. O que pensamos sobre Deus? Quem achamos que Ele é? Em que "Deus" você acredita? No Deus carrasco, guerreiro? Distante, frio? General? Imóvel? Deus é manso e humilde de coração. Seu Reino é um convite a uma festa, não a um quartel. Deus nos oferece uma casa, com muitas moradas, não uma hospedaria para fins de semana. Ele é um Deus amigo, não protocolar. Se sente cansado? Existe um Deus com o qual você pode conversar, sem que Ele vá lhe criticar ou bater em você. Ele é carinhoso. Uma alma cansada precisa de carinho. Esse carinho nos traz a paz.

Fala Jesus querido
Fala-me hoje sim
Fala com tua bondade
Fica ao pé de mim

Para conseguir a paz também é importante lembrar que o fardo de Deus é leve. Não precisamos levar pesos desnecessários. Devemos tirar o fardo das costas, tirar a culpa. Não a culpa saudável, que faz brotar o arrependimento e a restauração, mas a culpa patológica, que nos mantém nos "fundos de poços psicológicos". A culpa que nos impede de orar, que produz uma barreira quase intransponível de chegarmos a Ele. A culpa que desenvolve cultos sofríveis, de lamentações, de dores. Nossos cultos devem ser celebrações, onde toda a culpa é perdoada e onde a tristeza salta de alegria.

Deus nos traz paz. A verdadeira paz. Ele nos dá a certeza de que o que dissermos a Ele nunca será compartilhado com ninguém. Ele nos garante sigilo para nossos segredos mais íntimos. Ele demonstra interesse em nossas preocupações, mesmo as mais tolas na perspectiva humana. Ele não nos menospreza. Ele enfrenta conosco as dificuldades, como um irmão mais velho que briga por nós no colégio. Ele não nos julga. Ele acompanha nosso ritmo, às vezes tão apressado, e nos tranquiliza quando compreendemos que o tempo é Dele. Ele não pede nada em troca. Não nos cobra depois. Deus nos traz a paz. A paz que resiste ao fogo, ao vento, à tempestade. A paz que nos protege internamente de toda influência externa. Essa sim, é a verdadeira paz.

Só pela graça,

João Victor  

sábado, 31 de outubro de 2015

HALLOWEEN DA FÉ?


Que hoje, dia 31 de outubro, Dia da Reforma Protestante, deixemos de querer fazer da Igreja uma festa de Halloween, onde muitos vestem máscaras, até mesmo assustadoras, hipervalorizando as obras do demônio e esquecendo que o Cordeiro já venceu o Dragão. 
Que os cultos sejam para a glória de Deus e não para dar "ibope" ao maligno, cultuado no Halloween. 
Que os templos sejam cheios da Glória e não do medo. 
Que vivamos um evangelho de liberdade e não de terrorismo, onde nossa salvação seja comparada a uma bolha de sabão, facilmente estourada por setas ou unhas compridas dos "Freddy Kruegers" que querem transformar nosso relacionamento com Deus num legítimo pesadelo.
Que o "Pânico" dos ataques do diabo seja substituído pela paz de saber que problemas acontecem com todos, mas Deus está conosco e Sua presença nos faz viver o céu na terra.
Feliz Dia da Reforma. E que o Halloween fique de fora.

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Onde estás?


Geralmente, a pergunta é invertida. As tragédias e dores da vida nos fazem questionar "Onde Deus está". Há um mundo invisível. Somos compungidos a negar sua existência. Ao nos depararmos com situações insuportavelmente terríveis, atribuímos a culpa ao que não vemos, sob o pretexto de excluir o materialismo das responsabilidades de nossos ombros mortais.

Existiria realmente um mundo invisível? Certo dia, um jovem com alguns problemas de visão foi reprovado na disciplina de microbiologia. Ele não conseguia ver o que estava no microscópio, por mais que as lentes poderosas ajustassem o foco. No dia da prova, o rapaz começou a desenhar manchas e formas que estava vendo. Tal foi a surpresa quando os rabiscos mostraram que o aluno havia desenhado seu próprio olho. Será que representamos nos outros o que vemos nos outros ou o que está sendo refletido em nós mesmos? Será que, quando perguntamos sobre o paradeiro de Deus, não seremos nós os verdadeiros desaparecidos? Onde estamos?

Quando Adão peca, ele tenta se esconder. Onde estamos diante dos olhos de Deus? Alguns podem simplesmente ignorar a Deus. Quando o homem cai, forma-se uma ruptura, um abismo entre o mundo visível e o invisível. Entretanto, durante toda a história, sempre o homem criou imagens do mundo invisível para se apoiar. O que não se podia explicar era atribuído a Deus ou a deuses. Com o avanço da ciência, com o Iluminismo, houve uma tentativa de excluir o mundo invisível do contexto humano. Antes, camponeses poderiam sofrer uma vida inteira, mas mantinham uma esperança de algo invisível. Hoje, com toda a tecnologia, o homem pós-moderno racionalizou tanto sua existência que não conseguem mais crer se os seus olhos não vêem. Perdemos nossas almas para ganharmos o mundo. Adianta?

Estamos perdidos. Sem Deus. Será que Deus tem nos encontrado? Faz sentido continuar a correr sem destino, como o conselho do gato de Alice? Por que sofri? Por que sorri? Por que chorei? Por que nasci? Todas essas perguntas são respondíveis, quando eu entendo que o importante mesmo não são as emoções, mas o que eu aprendo com elas. A felicidade não é uma meta. A felicidade é um caminho.

Adão não some fisicamente. Adão perde a verdade. Adão opta pela mentira. Adão perde a intimidade com Deus. Onde está o que você aprendeu, Adão? Onde está o que eu te ensinei? Onde estão os anos caminhando no jardim? O problema é que esquecemos as lições. Trocamos primogenituras por pratos de lentilhas. Saciamos a fome momentânea, mas criamos uma cratera no espírito. Deus pergunta.
Onde estão os momentos de oração? Onde estão os louvores? Onde estão os momentos comigo?

As perguntas de Deus nos fazem sair dos esconderijos. Não há como se esconder Dele. Fugimos de casa, mas voltamos chorando quando o Pai nos encontra. Não se esconda na árvore do orgulho, da mentira. Deus nos encontra. E nos encontra nus. Estamos vulneráveis. Longe Dele, estamos expostos. O abismo que havia entre o mundo visível e o invisível é atravessado pela ponte em forma de cruz. Jesus se entregou para acabar com o abismo. Deus não apenas nos vê. Ele nos ama. E voltamos a andar juntos pelo jardim.

Só pela graça,

João Victor

Semana dos 34 #2 #TBT

Atrasado, mas precisava escrever a história da minha segunda década de vida. Muita coisa especial aconteceu. Aos 10 anos ainda queria ser jogador de futebol do Vasco da Gama. Queria ser o Bebeto, pelo porte físico franzino e o jeito de bater na bola. Nosso quintal era um campo de futebol. Claro, não com as mesmas dimensões. Muito longe disso. Dividíamos o espaço com várias árvores, pés de seriguela, jaca, cajarana, uma mangueira bem frondosa, goiabeira, coqueiro e um pé de sapoti que até hoje acho que era macho, porque nunca vi sair um sapoti sequer de lá. Meu quintal era quase um complexo olímpico, indo desde o futebol de areia, volei de praia (quintal na verdade), basquete de terra, tênis (no saibro), além das brincadeiras realmente infantis, como triângulo, bila, etc...Como não saía muito de casa, os amigos da igreja e vizinhos faziam as festas esportivas no quintal lá de casa. Era muito divertido.
Foi a fase dos desenhos e seriados japoneses. Jaspion, Changeman e os meus para sempre favoritos Cavaleiros do Zodíaco. Cada amigo era um cavaleiro. Jonatas Seya, Alisson Shiryu, Jorge Ikki, Otaniel Shun e eu era o mais incrível de todos: Yoga de Cisne. kkkk...Bom lembrar disso. Pó de diamante pra vcs.
Nessa fase, descobrimos a música. Eu e o Jorge, meu inseparável irmão, começamos a aprender a tocar. Eu, numa guitarra que ficou marcada pra história, uma Jeniffer preta, linda demais. O Jorge, nas panelas de casa, no sofá, até ganhar uma Drumond, onde os tons eram maiores que os bumbos de hoje em dia. Foi quando apareceu o Ananias, me apresentando as notas dissonantes das revistas que ensinavam a tocar violão, o Júnior (amigo antigo) e a figura do Zedequias, com sua roupa branca única e guitarra vermelha, chegando de mototáxi (com um sotaque peculiar). Começava a Banda Quarta Dimensão.
Aos 15 anos, começamos a tocar praticamente todos os sábados. Eventos em vários lugares da cidade. Colégios, igrejas, praças, cruzadas, campanhas evangelísticas. Para onde chamavam, a gente ia. Depois o Júnior saiu da banda e eu assumi o vocal e os teclados. O Téo depois se juntou ao trio e a gente fez muito a obra de Deus juntos. Viagens, ônibus, kombis, caminhões. A gente não tinha um centavo no bolso. Contudo, a alegria de tocar, de cantar, de fazer a obra de Deus era imensa. Bons tempos.
Aos 16 entrei na faculdade. Fiz vestibular para Odontologia na UFC, Veterinária na UECE e Fisioterapia na UNIFOR. Passei nas três. Entre os dez primeiros. Apareci no jornal. O menino que já quis ser motorista de ônibus, jogador de futebol e médico, optou por ser dentista. Não quis raspar a cabeça quando fui aprovado. Meus colegas de turma, na segunda semana de aula na UFC, fizeram isso por mim. Traumas capilares começaram a me perseguir desde então.
Aos 19 conheci Helane. Esbarrei com uma moça linda, na saída da igreja. Ela era nova. Nunca tinha visto. Senti algo estranho. Começamos a nos paquerar. Algum tempo depois a convidei para um jantar de dia dos namorados na igreja. Ela aceitou. Interessante saber que ela me atacou...kkkk. Foi um dia, depois do culto. Ela havia saído meio enciumada pelo fato de eu ser bastante receptivo, principalmente com o sexo feminino (rs). Eu fui atrás dela. Fui beijar o rosto dela como despedida. Ela desviou e roubou de mim um beijão na boca. Aí não deu mais pra segurar. Dias depois começamos a namorar...O resto, são cenas dos próximos capítulos.


Continua...

segunda-feira, 6 de julho de 2015

Semana dos 34 #1


Quantas reflexões podem ser feitas às vésperas de um aniversário. Repensar decisões tomadas ou não? Olhar para trás ou pra frente?
Lembro dos meus primeiros 10 anos com muita saudade. O Ursinho Pimpão me embalava antes de dormir, juntamente com as músicas de Gigliola Cinqueti que minha mãe cantava. Ouvi-la cantar certamente aguçou meu prazer pela música. Falei cedo demais. Conheci as letras cedo demais. Não gostava dos primeiros dias do colégio, o que não é de se estranhar. Meus pais dizem que "pulei" o Jardim II por já saber ler e escrever aos 3 anos de idade. Esse fato me fez estar sempre um ano na frente dos meus colegas em todas as turmas de toda a minha vida colegial. Eu reclamava do "B com A = BA" das professoras. Aulas chatas e desnecessárias. Imaginem o quanto esse menino ficou metido. Lembro de um episódio nas festas juninas onde um tal de Agripino "roubou" meu título de noivo mais bonito da quadrilha. Foi terrível! Sempre queria ser o primeiro. Sempre quis ser o melhor.
Contudo, eu brincava sozinho. Precisava de um irmãozinho. Veio o Jorge. É incrível como ele sempre me completou. O abraço dele era tão aconchegante.
Educandário Felipe dos Santos formou meu caráter. Perdi a timidez, se é que um dia a tive, ao ser escalado sempre para cantar o Hino Nacional em cima de uma mesa diante de todo o colégio. Aos 5 anos de idade não errar a letra era um fato incrível (vide Vanusa). A criança prodígio ia se destacando. Olimpíadas de Matemática eram conquistas comuns. Medalhas de Honra ao Mérito se tornaram de praxe. Sempre o mais novo da sala. Sempre o exemplo a ser seguido. A responsabilidade aumentava. E pesava sobre os ombros.
Lembro do dente quebrado jogando futebol de tampinhas de refrigerante na quadra. Que jogada do destino. A fratura do incisivo central me acompanhou até a faculdade de Odontologia. Quem diria?
Queria ser motorista de ônibus, só para fazer curvas nos viadutos da vida. Quis ser jogador de futebol do Vasco da Gama, ser um Bebeto. Aquele time Cruzmaltino de 1989 foi inesquecível. O gol do Sorato no Morumbi ainda está como flash na memória. E o gol do Romário contra o Uruguai na Copa América de 89? Vibrei em cima dos ombros do meu paizão, vendo o jogo na Colônia de Férias do SESC. As conquistas do Senna, nas madrugadas de domingo, deitado no colo do irmão João também foram demais! Com o gol do Caniggia em 90, chorei pela primeira vez por causa de uma partida de futebol. Primeira e última. Da TV, lembro das Sete Faces do Dr. Lao, dos filmes do Super Homem, dos desenhos da Formiga Atômica, os Jetsons, os Defensores da Terra, além do Jaspion, Changeman e Jiraya. A Rede Manchete era show!!!
Minhas brincadeiras eram bem estranhas. Cortava folhas de papel ofício e fazia jogadores com quadradinhos de papel, riscando as colchas de cama desenhando estádios. O mais louco era de onde eu retirava o nome dos jogadores. Enciclopédias geravam escalações. Por exemplo, a seleção alemã tinha Bach, Einstein. Na seleção da URSS (é o novo), um tal de Dostoiévski era o atacante, ao lado de um tal de Gorbachev. Na seleção dos EUA, Abrahm Lincoln, Reagan e Kennedy marcavam os gols na brincadeira de gente anormal.
E os autódromos de Fórmula 1? Havia a colcha de cama desenhada com a pista também. As tampinhas que serviam de bola no colégio, eram os carros super velozes de Ayrton Senna, Alain Prost, Gerard Berger e Nelson Piquet, etc. Bons tempos.
Resumindo, meus primeiros 10 anos foram ótimos.
Durante a semana, falo da minha segunda década. Muita coisa legal aconteceu.




quinta-feira, 2 de abril de 2015

E se...


E se eu pudesse começar de novo
E se eu pudesse fazer tudo outra vez
Ou se eu tentasse desmanchar os erros
Despedaçar aquilo que eu construí

Se eu olhar por uma nova esfera
E na espera de tentar mudar
Compreender que sempre há outro jeito
E simplesmente não parar de andar

Apagaria as inutilidades
Tolos momentos, horas que perdi
Resgataria a intimidade
Carinho, afeto, o amor que eu vivi

Procuraria novas amizades
Sem esquecer das velhas relações
E cantaria com sinceridade
Um novo som, uma nova canção

Que fale de amor, que fale de amor

Não há como olhar pra trás
Sem pensar no amanhã
Não há como ser feliz
Sem entregar o coração

Porque nenhuma folha cai
Sem a sua permissão
A minha vida sempre estará
Em suas mãos...




Só pela graça,

João Victor

sábado, 21 de março de 2015

MÚSICA NOVA - MESMO ASSIM

Quando minhas mãos falharem
Quando nos meus pés não houver forças pra caminhar
Quando os meus olhos não enxergarem mais
E minha vista embaçada me fizer tropeçar
Eu sei
Sei que mesmo assim
Sempre e mesmo assim
Sei que mesmo assim
Não me deixarás
Pode o mundo desabar ao meu redor
Tuas mãos estendidas permanecerão
Nem que seja necessário me quebrar
Me faça de novo
Eu tentarei não me curvar diante do medo
Eu sei que posso acreditar.

sexta-feira, 6 de março de 2015

Não preciso responder

Não preciso responder...

Durante metade da minha vida servi ativamente no ministério ao qual Deus me confiou. Nunca usurpei por poder ou títulos. Sempre achei estranho ser chamado de pastor. Responsabilidades grandes me foram confiadas desde jovem. A pressão sempre foi gigantesca. Muitas vezes, esperavam perfeição de onde apenas pode sair uma mera natureza humana, verdadeiramente regenerada, mas ainda assim em obras. Estamos realmente em obras.

O processo de reforma sofreu uma baixa. Perdi um mentor espiritual recentemente. Alguém em quem me inspirava. Antes que os incautos ou ignorantes sob a capa do gospelmente correto ou da conduta "espiritualmente" ilibada, venham com acusações de que minha inspiração deve ser Cristo e blá blá blá, quero deixar claro que tenho consciência disso. Não apenas sigo a Cristo. Não apenas sou inspirado por Jesus. Eu o sirvo. Contudo, aqui na terra existem pessoas dignas de aplausos e admiração. Eu me espelhava nele. Ele foi meu grande mestre.

Todavia, Pr. Darckson partiu. Ele foi tirado de nós. E eu sofri. Até hoje sofro. Não paro de lembrar dele. Ele será inesquecível.

Dessa forma, não preciso responder aos que dizem que meu sofrimento é falso. Não preciso responder aos que dizem que eu o abandonei. Não preciso responder aos que dizem que fui um falso amigo. Não preciso responder aos que me interromperam durante à minha última homenagem. Não preciso responder aos que pensam que eu não amava aquele que foi meu pastor por mais de 15 anos. Não preciso responder.

Apenas sinto falta. Confesso que hoje sinto mais do que durante o período que estivemos apenas longe. Hoje a saudade é infinita.

Compartilho do sofrimento da minha pastora Damares, dos filhos Jonatas e Débora, de todos os irmãos, de toda a família Lira. São quase 10 dias sem ele. Porém, a história ninguém vai apagar.

Como ele era um apreciador desse blog, resolvi voltar a escrever. Mais de um ano sem nada novo e não queria que fosse para falar desse assunto. Vou voltar a escrever. Preciso. Escrever me faz bem. Preciso ficar bem. Preciso continuar a nadar (#contemplarentende).

Não preciso responder. Preciso apenas viver. Aos que permanecerão me acusando, sinto muito. Aos que continuarão rancorosos, sinto muito. Continuarei os amando como sempre amei. Como aprendi certa vez, Jesus continuou sendo Jesus apesar de Judas. A gente dá o que a gente tem. E não consigo ter outro sentimento a não ser amor.

Só pela graça,

João Victor