Baseado no texto de Salmo 46.10
Diz a lenda que Alexandre, o Grande,
queria a todo custo entrar no Santo dos Santos, no templo construído por
Salomão. Ali, havia uma câmara onde os judeus diziam que Deus manifestava a sua
glória. O rei macedônio andava curioso para conhecer esse Deus. Depois que
devassou a cidade e o templo, ele se decepcionou: o lugar era um mero espaço
vazio, escuro e profundamente silencioso. Alexandre não conhecia místicos de
várias tradições da espiritualidade. Muitos haviam intuído que o vazio é
sagrado e o nada guarda mistério.
Salmo 46.10: Aquiete-se. Só assim você vai
perceber que sou Deus. Sinto a necessidade de inundar a mente, feito
menino, com perguntas sem fim: Por
que existe alguma coisa e não o nada? Os confins do universo possuem margem? Por
que, no processo evolutivo, os humanos desenvolveram a angústia? A realidade, nos sonhos, que expõe
o universo do inconsciente, não seria ainda mais real do que o mundo
consciente?
Enquanto martelo essas indagações,
imagino poder alcançar a resposta aos por quês. Sentado ou correndo, penso,
penso, penso. Mesmo sabendo que nunca me satisfarei com a imensidão do
mistério que me envolve, não descanso a curiosidade. Quero respostas não para o como das coisas, necessito tocar o
imensurável com os meus desesperados por
quês.
Semelhante ao imperador, não sei lidar
bem com o vazio sagrado. Loto meus dias de barulho. Vivo apressado. Não ter que
conviver com o nada parece ter força de aliviar o medo da morte. Divertimento,
no sentido filosófico, vira narcótico – miçanga de uma felicidade real. Se o
imarcescível só é percebido no vazio, preciso exercitar o que o profeta
aconselhou: Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do
Senhor… Assente-se solitário e fique em silêncio [Lamentações 3.26-28].
Contudo, precisamos de respostas. E o
texto dá as respostas necessárias. Precisamos nos
aquietar.
Quando enfrentamos dificuldades em nossa vida que fazem parecer
como se estivéssemos num navio que está sendo jogado de um lado a outro num mar
tempestuoso, como podemos permanecer calmos enquanto uma tempestade se enfurece
ao nosso redor?
FIQUE CALMO!!!!!!COMO?
1. LIVRE-SE DOS RUÍDOS
· Não há como estar calmo ouvindo barulho.
Quanto mais você ouve os murmúrios, mais nervoso ficamos. Quanto mais barulho,
mas stress.
· Quanto mais barulho, menos você ouve a
voz de Deus. PARE!!! OUÇA A VOZ DE DEUS!!! DEIXE ELE FALAR.
2. LIVRE-SE DA TEMPESTADE
· Não significa que a tempestade tenha
passado, mas que a tempestade já não está mais dentro de você. Ao redor a
tempestade pode ser terrível e destruidora, mas dentro de você reinará a paz.
Não uma paz baseada na alienação, do fazer de conta que não está havendo nada,
mas a paz baseada na confiança de que Jesus está contigo no barco e ele não vai
naufragar.
3. LIVRE-SE DAS INTERRUPÇÕES
· Os problemas da vida nos fazem parar.
Parar de orar, parar de ler a palavra, parar de buscar. Quando paramos, o mundo
continua. Quando interrompemos o que estamos fazendo, ficamos para trás.
· A obra deve continuar. Filme O Último
Samurai
· Nada na mente – NÃO PARE O QUE ESTÁ
FAZENDO POR CAUSA DAS PESSOAS! NÃO FIQUE PARA TRÁS!
7 VIRTUDES DO BUSHIDO : JUSTIÇA, COMPAIXÃO, BRAVURA, POLIDEZ,
SINCERIDADE, HONRA, LEALDADE
“Eu não tenho espada, faço da perseverança a minha espada”
4. OLHE PARA DENTRO DE VOCÊ : Ezequiel, o
profeta bíblico, comeu um livro repleto de lamentos, prantos e ais. Depois de encher a
barriga, afirmou: Eu o comi,
e na boca me era doce como mel. [3.3]. Como pode um livro de lamentos ser
doce na boca de alguém? Muito estranho alguém gostar de prantear.
Ezequiel precedeu
a fala de Jesus: Felizes –
bem-aventurados – o que choram porque eles serão consolados. Os que choram
conseguem não apenas aliviar as dores do coração; desafogam não só imperativos
triunfais. É feliz quem pode expressar angústia sem o patrulhamento dos
insensíveis. Alguém já disse que poeta
só é poeta se sofrer. É possível dizer também: profeta só é profeta se
aprende a lamentar.
O Tao também ensina:
Trinta raios unem um eixo,
A utilidade da roda vem do vazio.
A utilidade da roda vem do vazio.
Queima-se o barro para fazer o pote.
A utilidade do pote vem do vazio.
A utilidade do pote vem do vazio.
Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
A utilidade do quarto vem do vazio.
A utilidade do quarto vem do vazio.
SABEI QUE EU SOU DEUS!!!
Todos os nossos pecados foram pagos na cruz do Calvário. Tudo
foi consumado! Tudo foi resolvido. O sangue nos purificou. O sangue nos salvou.
Estamos livres.
O vazio é então preenchido. E não existirá mais.
Quem sabe, a resposta às grandes perguntas da vida habite a
coragem de conviver com o vazio. Nada nos inquietar, senão com nosso próprio
enigma, talvez ajude. A solução que tanto procuramos pode vir não da
racionalidade, mas da noite
escura do não-saber. Como ensinaram os místicos, o convívio com as
profundezas de nosso interior deve bastar. A não-resposta,
a não-solução e o não-sei se irmanam à razão para
nos deixar na companhia do essencial.
O mistério da vida talvez venha do convívio tranquilo com o que
não dominamos. Quem sabe, longe das demandas da competência, sem as vozes da
onisciência, consigamos conquistar o abismo que nos impede de achar o verdadeiro eu - e com ele, o
sagrado. No
templo de Apolo em Delfos, lia-se: Conhece-te
a ti mesmo. Mais
tarde, a mesma frase foi atribuído a Sócrates com um complemento: Conhece-te a ti mesmo e
conhecerás o universo e os deuses.
Jesus de Nazaré avisou: quem
quiser ganhar a vida vai perdê-la e quem ousar perder a sua vida vai ganhá-la.
Em outras palavras: se temos coragem de nos esvaziar da arrogância de tudo
possuir e tudo saber, podemos intuir o inaudível, sentir o imperceptível e
experimentar o indescritível. No silêncio, desvelamos nossa pessoalidade – que nos singulariza em um universo
impessoal. Não seria precisamente esse o maior de todos os segredos?