Total de visualizações de página

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O VAZIO


Baseado no texto de Salmo 46.10

Diz a lenda que Alexandre, o Grande, queria a todo custo entrar no Santo dos Santos, no templo construído por Salomão. Ali, havia uma câmara onde os judeus diziam que Deus manifestava a sua glória. O rei macedônio andava curioso para conhecer esse Deus. Depois que devassou a cidade e o templo, ele se decepcionou: o lugar era um mero espaço vazio, escuro e profundamente silencioso. Alexandre não conhecia místicos de várias tradições da espiritualidade. Muitos haviam intuído que o vazio é sagrado e o nada guarda mistério.

Salmo 46.10: Aquiete-se. Só assim você vai perceber que sou Deus. Sinto a necessidade de inundar a mente, feito menino, com perguntas sem fim: Por que existe alguma coisa e não o nada? Os confins do universo possuem margem? Por que, no processo evolutivo, os humanos desenvolveram a angústia? A realidade, nos sonhos, que expõe o universo do inconsciente, não seria ainda mais real do que o mundo consciente?

Enquanto martelo essas indagações, imagino poder alcançar a resposta aos por quês. Sentado ou correndo, penso, penso, penso.  Mesmo sabendo que nunca me satisfarei com a imensidão do mistério que me envolve, não descanso a curiosidade. Quero respostas não para o como das coisas, necessito tocar o imensurável com os meus desesperados por quês.

Semelhante ao imperador, não sei lidar bem com o vazio sagrado. Loto meus dias de barulho. Vivo apressado. Não ter que conviver com o nada parece ter força de aliviar o medo da morte. Divertimento, no sentido filosófico, vira narcótico – miçanga de uma felicidade real. Se o imarcescível só é percebido no vazio, preciso exercitar o que o profeta aconselhou: Bom é ter esperança, e aguardar em silêncio a salvação do Senhor… Assente-se solitário e fique em silêncio [Lamentações 3.26-28].

Contudo, precisamos de respostas. E o texto dá as respostas necessárias.  Precisamos nos aquietar.
Quando enfrentamos dificuldades em nossa vida que fazem parecer como se estivéssemos num navio que está sendo jogado de um lado a outro num mar tempestuoso, como podemos permanecer calmos enquanto uma tempestade se enfurece ao nosso redor?

FIQUE CALMO!!!!!!COMO?
1.    LIVRE-SE DOS RUÍDOS

·       Não há como estar calmo ouvindo barulho. Quanto mais você ouve os murmúrios, mais nervoso ficamos. Quanto mais barulho, mas stress.
·       Quanto mais barulho, menos você ouve a voz de Deus. PARE!!! OUÇA A VOZ DE DEUS!!! DEIXE ELE FALAR.

2.    LIVRE-SE DA TEMPESTADE
·       Não significa que a tempestade tenha passado, mas que a tempestade já não está mais dentro de você. Ao redor a tempestade pode ser terrível e destruidora, mas dentro de você reinará a paz. Não uma paz baseada na alienação, do fazer de conta que não está havendo nada, mas a paz baseada na confiança de que Jesus está contigo no barco e ele não vai naufragar.

3.    LIVRE-SE DAS INTERRUPÇÕES
·       Os problemas da vida nos fazem parar. Parar de orar, parar de ler a palavra, parar de buscar. Quando paramos, o mundo continua. Quando interrompemos o que estamos fazendo, ficamos para trás.
·       A obra deve continuar. Filme O Último Samurai
·       Nada na mente – NÃO PARE O QUE ESTÁ FAZENDO POR CAUSA DAS PESSOAS! NÃO FIQUE PARA TRÁS!
7 VIRTUDES DO BUSHIDO : JUSTIÇA, COMPAIXÃO, BRAVURA, POLIDEZ, SINCERIDADE, HONRA, LEALDADE
“Eu não tenho espada, faço da perseverança a minha espada”

4.    OLHE PARA DENTRO DE VOCÊ : Ezequiel, o profeta bíblico, comeu um livro repleto de lamentos, prantos e ais. Depois de encher a barriga, afirmou: Eu o comi, e na boca me era doce como mel. [3.3]. Como pode um livro de lamentos ser doce na boca de alguém? Muito estranho alguém gostar de prantear.
         Ezequiel precedeu a fala de Jesus: Felizes – bem-aventurados – o que choram porque eles serão consolados. Os que choram conseguem não apenas aliviar as dores do coração; desafogam não só imperativos triunfais. É feliz quem pode expressar angústia sem o patrulhamento dos insensíveis. Alguém já disse que poeta só é poeta se sofrer. É possível dizer também: profeta só é profeta se aprende a lamentar.

O Tao também ensina:
Trinta raios unem um eixo,
A utilidade da roda vem do vazio.
Queima-se o barro para fazer o pote.
A utilidade do pote vem do vazio.
Rasgam-se janelas e portas para criar o quarto.
A utilidade do quarto vem do vazio.

SABEI QUE EU SOU DEUS!!!

Todos os nossos pecados foram pagos na cruz do Calvário. Tudo foi consumado! Tudo foi resolvido. O sangue nos purificou. O sangue nos salvou.
Estamos livres.
O vazio é então preenchido. E não existirá mais.


Quem sabe, a resposta às grandes perguntas da vida habite a coragem de conviver com o vazio. Nada nos inquietar, senão com nosso próprio enigma, talvez ajude. A solução que tanto procuramos pode vir não da racionalidade, mas da noite escura do não-saber. Como ensinaram os místicos, o convívio com as profundezas de nosso interior deve bastar. A não-resposta, a não-solução e o não-sei se irmanam à razão para nos deixar na companhia do essencial.

O mistério da vida talvez venha do convívio tranquilo com o que não dominamos. Quem sabe, longe das demandas da competência, sem as vozes da onisciência, consigamos conquistar o abismo que nos impede de achar o verdadeiro eu - e com ele, o sagrado. No templo de Apolo em Delfos, lia-se: Conhece-te a ti mesmo. Mais tarde, a mesma frase foi atribuído a Sócrates com um complemento: Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses.


Jesus de Nazaré avisou: quem quiser ganhar a vida vai perdê-la e quem ousar perder a sua vida vai ganhá-la. Em outras palavras: se temos coragem de nos esvaziar da arrogância de tudo possuir e tudo saber, podemos intuir o inaudível, sentir o imperceptível e experimentar o indescritível. No silêncio, desvelamos nossa pessoalidade – que nos singulariza em um universo impessoal. Não seria precisamente esse o maior de todos os segredos?

domingo, 8 de novembro de 2015

Isto é o meu corpo?



Em que estado encontramos o corpo de Cristo? Quantas guerras interdenominacionais temos presenciado? A idolatria pelo "corpo" de Cristo tem minado a fé de muitas pessoas. Valorizam muito mais a placa da igreja local do que a Igreja em si. Por outro lado, há os que não entendem que fazem parte desse corpo e não podem andar sozinhos, independentes. A verdade é que precisamos uns dos outros. Isso é ser corpo.
Entretanto, que significado tem o corpo de Cristo? Em Lucas, Jesus compara seu corpo ao pão. O corpo é pão. O pão é corpo. O corpo é alimento. O pão é alimento. O corpo é a Igreja. A Igreja é o pão. PRECISAMOS DE PÃO, POIS A FOME VEM. Precisamos do corpo porque sentimos fome. Quantas vezes o vazio tenta se apoderar de nós? Falta de pão. Falta de se sentir corpo. Falta de unidade. Quando não nos sentimos um pedaço desse pão, não entendemos o que é corpo.
Passamos a vida inteira reclamando do nosso pão, do corpo. Devemos aprender a AGRADECER PELO PÃO. Por que não damos graças? Por que não agradecer, ao invés de reclamar? Por que não reconhecer o processo pelo qual nosso pão foi fabricado? É necessário entender que o trigo foi semeado, foi regado, foi arado, passou por todos os processos para virar pão, que veio do forno e que deve ser sem fermento. Quantas metáforas. Não precisamos de aditivos para virarmos pão. O corpo de Cristo não precisa de enfeites, grânulos de gergelim ou outros apetrechos para que seja comível. O pão deve ser sem fermento.
Devemos ser pão. Não importa se somos casca ou miolo. Sejamos pão. Agradeçamos ao lugar onde Deus nos colocou para alimentar pessoas.
Contudo, o texto de Lucas diz que Jesus repartiu o pão. O corpo é repartido. Cada um tem sua função, sua razão de estar à mesa. O corpo era de Cristo, mas Ele o repartiu. Os fragmentos se espalharam, sem deixar de ser corpo. O pão foi separado, mas não deixou de ser pão. A questão é essa. Enxergamos apenas a parte de um todo, como cegos tocando um elefante em partes diferentes. Nossas igrejas podem até ter doutrinas diferentes, dogmas diferentes, podem usar roupas diferentes, estilos variados, mas não deixamos de ser do mesmo pão, do mesmo corpo. O PÃO É REPARTIDO, MAS NÃO DEIXA DE SER PÃO.
Além disso, Jesus disse que o corpo nos foi dado. Às vezes, com desprezo, sem entender o processo, sem provar antes, sem nem sequer reconhecer nossa fome, nos perguntamos com um ar arrogante: ISTO É O CORPO? ISTO AÍ? CHEIO DE DEFEITOS? CHEIO DE PESSOAS PROBLEMÁTICAS? Entretanto, algo não podemos negar. O pão que temos nos foi dado por nossa causa, porque precisávamos dele. A Igreja, a comunhão é necessária, é imprescindível. Jesus nos deu a Igreja. Jesus nos deu o seu corpo para que passássemos a ser o seu Corpo. Ao olhar para a Igreja, devemos ver Jesus. Que Jesus estamos exibindo ao mundo? Que Corpo de Cristo temos mostrado? Jesus pergunta hoje: ISTO É O MEU CORPO?
A Igreja é o corpo glorificado de Cristo, vivo. Contudo, passa pela etapa da cruz. Sofre perseguição, é ferida, atacada, mas vence a morte. Essa é a Igreja. Esse é o Corpo.
O que fazemos é EM MEMÓRIA DELE. Como Igreja, nós lembramos Jesus? Nós o homenageamos ou o envergonhamos? Sua memória é preservada quando entendemos a cruz, não ouvimos os gritos da multidão enfurecida e, principalmente, quando perdoamos. Se não soubermos perdoar, nunca seremos Igreja, nem Corpo, nem pão. É isso que queremos?

Só pela graça,

João Victor

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

A verdadeira paz existe?


Quando pensamos em paz, algumas imagens vêm à nossa cabeça. Um lago entre as montanhas num dia ensolarado, calmo, com pássaros voando e uma criança sentada com os pés imersos na água. Uma música como a obra prima de Dolores Duran "A noite do meu bem", cuja letra é uma das mais belas poesias já escritas.

Hoje eu quero a rosa mais linda que houver
E a primeira estrela que vier
Para enfeitar a noite do meu bem
Hoje eu quero a "paz de criança dormindo"
Quero a ternura de flores se abrindo
Para enfeitar a noite do meu bem

Enfim, essa imagem de paz se contrasta com alguns Salmos da Bíblia. Textos angustiados, almas em tempestade. Paranóias de perseguição.
Sl.69:1 - "Salva-me oh Deus, pois as águas subiram ao meu pescoço"

Nessa tensão entre o desejo de paz e a angústia, a gente envelhece. Envelhece por dentro. Não tem a ver com a idade. Esse envelhecimento está relacionado com a angústia que a vida gera. A angústia de se sentir atolado, sufocado, pelos problemas e dificuldades. São mães que educam os filhos e hoje se sentem cansadas. São homens que trabalharam a vida inteira, mas nunca conseguiram conquistar nada de positivo. São pastores que se matam pela igreja, mas só vêem cobranças e descompromissos. A realidade é que a vida não é um pic-nic e a roda gira. O drama humano é pesado. Nessa luta diária, como encontrar a paz?

Em primeiro lugar, precisamos perceber quando estamos fadigados. Quando chega a exaustão, é hora de pedir socorro. A partir dessa percepção, tomamos algumas atitudes para trazer a paz de volta ao nosso coração aflito. Precisamos ter bons pensamentos a respeito de Deus. Essa é uma questão importante. O que pensamos sobre Deus? Quem achamos que Ele é? Em que "Deus" você acredita? No Deus carrasco, guerreiro? Distante, frio? General? Imóvel? Deus é manso e humilde de coração. Seu Reino é um convite a uma festa, não a um quartel. Deus nos oferece uma casa, com muitas moradas, não uma hospedaria para fins de semana. Ele é um Deus amigo, não protocolar. Se sente cansado? Existe um Deus com o qual você pode conversar, sem que Ele vá lhe criticar ou bater em você. Ele é carinhoso. Uma alma cansada precisa de carinho. Esse carinho nos traz a paz.

Fala Jesus querido
Fala-me hoje sim
Fala com tua bondade
Fica ao pé de mim

Para conseguir a paz também é importante lembrar que o fardo de Deus é leve. Não precisamos levar pesos desnecessários. Devemos tirar o fardo das costas, tirar a culpa. Não a culpa saudável, que faz brotar o arrependimento e a restauração, mas a culpa patológica, que nos mantém nos "fundos de poços psicológicos". A culpa que nos impede de orar, que produz uma barreira quase intransponível de chegarmos a Ele. A culpa que desenvolve cultos sofríveis, de lamentações, de dores. Nossos cultos devem ser celebrações, onde toda a culpa é perdoada e onde a tristeza salta de alegria.

Deus nos traz paz. A verdadeira paz. Ele nos dá a certeza de que o que dissermos a Ele nunca será compartilhado com ninguém. Ele nos garante sigilo para nossos segredos mais íntimos. Ele demonstra interesse em nossas preocupações, mesmo as mais tolas na perspectiva humana. Ele não nos menospreza. Ele enfrenta conosco as dificuldades, como um irmão mais velho que briga por nós no colégio. Ele não nos julga. Ele acompanha nosso ritmo, às vezes tão apressado, e nos tranquiliza quando compreendemos que o tempo é Dele. Ele não pede nada em troca. Não nos cobra depois. Deus nos traz a paz. A paz que resiste ao fogo, ao vento, à tempestade. A paz que nos protege internamente de toda influência externa. Essa sim, é a verdadeira paz.

Só pela graça,

João Victor