Sobre Mateus 24
Será que estamos preparados para o
inesperado? Sustos acontecem apenas quando não esperamos o momento deles. É o
assalto, o acidente de carro, os tropeços. Muitas situações nos pegam de
surpresa. Nossas reações diante delas também são incógnitas. Surpresas, que
podem ser boas ou ruins, vêm sempre com uma carga emocional gigantesca. Não estávamos
prontos. Não era o momento que aguardávamos. Não foi no dia combinado. Não foi
do jeito que pensamos.
O fato é que, no que diz respeito ao
tempo, precisamos estar esperando até mesmo o inesperado. As aflições, as
doenças, as provações aparecem e devemos reagir a elas. Entretanto, viver de
expectativas, quer sejam agradáveis ou terríveis, tira um pouco do sabor da
vida. As nuvens avisam quando a chuva virá. Daí, saímos com o guarda-chuva.
Porém, se sempre estivermos protegidos, nunca experimentaremos um bom banho de
chuva.
Viajar sem planos, como uma barata
voadora que não sabe ao certo onde vai pousar, é maravilhoso. Ser surpreendido
por um pôr-do-sol, por ter atrasado durante um trajeto que se encerraria no
começo da tarde e que, por um motivo ou outro, se estendeu ao crepúsculo.
Entrar no ônibus e passear pela cidade toda, conhecendo vários tipos de
pessoas, vários bairros, várias vistas e voltar ao lugar de partida. Aventuras
que deveríamos fazer algumas vezes. Sem planos, desorganizados, aproveitando o
momento, o dia, a vida.
Todavia, há questões mais profundas
abordadas nesse texto. Não estamos falando de viagens terrenas. Não é sobre
sustos “tira-soluços”. Jesus fala de construções. Estruturas sólidas erguidas
pelo homem. Templos que erguemos dentro de nós mesmos ou do lado de fora. Jesus
fala da destruição desse templo. Ou seria “deste” templo? Não ficaria pedra
sobre pedra. Todas as paredes seriam derrubadas. Tudo que passaram anos
construindo seria aniquilado. O dia e a hora em que tudo aconteceria ninguém
iria saber.
O que faz os nossos templos
espirituais caírem?
1. Mentiras.
Muitos prometeriam salvação, mas não seriam Cristo. O problema é que muitos
acreditaram por eles personificarem o tipo de “messias” que as pessoas esperam.
Engano, trapaças, cobiça por glória, poder, por status, honra. Em quem confiar?
Em quem acreditar? Jesus nos adverte não a sermos incrédulos, mas a estar atentos
aos falsos profetas, até porque virão em nome Dele. E isso não é apenas na
ótica religiosa. É relacional também. Relacionamentos baseados em falsidade
tendem a desmoronar. Devemos vigiar. Devemos ser verdadeiros. Se quisermos
assumir postura de Cristo, devemos nos preparar para mais cruz e menos hosanas.
O filho do homem virá e levará os verdadeiros.
2. Guerras.
Não conseguiremos fugir delas. Nações contra nações. Reinos contra reinos.
Abalos sísmicos despedaçariam os templos. E por muitos terremotos precisaremos
passar. São tremores que destroem
castelos erguidos com muito sacrifício. Famílias que se esfacelam por
discussões banais. Sabemos quando isso vai acontecer? Não, mas devemos estar
prontos. A sirene nos avisa quando é hora de fugir e evitar a morte. Guerras e
terremotos são terríveis. Ver os destroços deve ser uma dor incalculável.
Contudo, apenas os sobreviventes contemplam os destroços e podem reconstruir o
que foi arrasado. O filho do homem virá buscar quem permanecer de pé.
3. O
amor esfriará. A temperatura do ódio aumentará. Percebemos isso. É bem mais
prático resolver os problemas expulsando as pessoas que amamos do nosso
convívio do que as perdoando e oferecendo segundas chances. O mundo se isola,
cada dia mais. Redomas de vidro de um metro quadrado são fabricadas para cada
indivíduo para abrigar seus egos. Cada um no seu quadrado. Alguns ainda citam
Paulo e Barnabé, suas desavenças e como cada um foi para um lado diferente. O
evangelho se expandiu, se multiplicou. Não houve divisão. Houve multiplicação.
O amor multiplica, não divide. É pelo amor de um homem e de uma mulher que uma
vida é gerada. O nascimento é uma prova de amor. A ausência de amor causa o
aborto. O amor esfria. Congela. Icebergs afundam navios. Precisam de calor para
derreter e provocarem uma onda de paz. Jesus nos alerta. Vamos vigiar. O amor
está congelado. Vamos aquecer nossas relações. Isso vem com proximidade, afeto,
abraços, perdão. Não sabemos quando precisaremos, diante de um gesto de fúria
ou ódio responder com amor. O amor nunca é a parte gelada do confronto. Frieza
é personificação do mal. O amor aquece a alma, já dizia o cantor popular. O
filho do Homem vai vir buscar aquele que amar acima de tudo.
Não sabemos quando teremos que
enfrentar mentiras, guerras, terremotos, amor abaixo de zero. Devemos vigiar.
Não sabemos o dia nem a hora que nosso templo cairá. Entretanto, sabemos que o
Filho do Homem virá. Como estarei preparado? Cumprirei todas as regras
estabelecidas pela igreja? Ótimo, você será um excelente membro. E se o
cumprimento de todas essas regras religiosamente estabelecidas me fizer obrigar
que todos, mesmo ainda girinos, imberbes, recém-convertidos, a ser como eu,
diligente, proativo, acima da média espiritual das demais ovelhas? Não. Não devo
ser provocador de guerras, mas um arauto da paz. Não devo exigir que todos
tenham a mesma deformação do meu elástico espiritual. É algo particular. Cada
um sabe seu limite. Não devo ser um obreiro exemplar e pai relapso. Não devo de
forma alguma, baseado na minha aparente perfeição, perder a essência do amor e
do perdão, fundamentando minha experiência com Deus a atos punitivos e inquisitórios.
Nosso templo pode ser destruído.
Como me preparo então? Sendo verdadeiro. Reconstruindo o que foi destruído.
Entendendo as perdas. Amando. Permanecendo de pé, até o fim.
Só pela graça,
João Victor
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