Total de visualizações de página

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

FINAL DE ANO...FINAL DE...FINAL?

O ano está acabando e inúmeras reflexões permanecem em processo ou em pendência. Queria muito que esse ano acabasse logo. Os dias foram maus. Foi um ano repleto de perspectivas frustradas, perdas, noites mal dormidas, mudanças de hábitos, de pele, de visão. A igreja mudou. Nós mudamos.
No final das contas, aprendemos a não murmurar e a viver mais humanizados e menos bestializados (ou no cearense comum, abestados). "A felicidade bestializa. Só o sofrimento humaniza as pessoas", como diria Mario Quintana. 

Em meio a essas reflexões rasas e profundas, me apaixonei por Jesus. Aprender com o Mestre é um convite ao distanciamento da religiosidade "evangelicalesca" e uma aproximação da liberdade. Sim, a religião aprisiona. Nos aprisionamos em liturgias históricas, tradicionais, que produzem verdadeiras guerras quando tentamos um rompimento. Discussões grotescas de como se vestir, o que ouvir, o que cantar, como orar, como iluminar a igreja, como não iluminá-la, permeiam reuniões longas e cansativas que não levam a lugar algum. Afinal de contas, como deve ser o culto de oração? Em que dia deve ocorrer a Escola Bíblica? Somos tradicionais ou pentecostais? Uns saem nos criticando que somos pentecostais demais. Outros já afirmam que somos tradicionais demais e não cremos nos "mistérios". Será que temos realmente que agradar sempre? Para quem é direcionado o culto? 

Os membros das igreja se tornaram espectadores, fregueses, clientes. "A igreja não canta mais hino de fogo. Não gostei". "A igreja tem muito reteté, não gosto disso". Alguém me avise quando eu puder mandar todos esses viajarem pelo Brasil (pra não dizer o que tenho vontade de dizer).
A questão é que, algum dia, vamos desagradar alguém. Pessoas que visitamos, que rasgamos elogios ou que investimos nosso tempo nos deixam sem nem sequer dizer um "obrigado" ou no mínimo avisar que estão indo. Outros nos surpreendem, sendo fiéis em tudo, apesar de não receberem a mesma atenção. Alguns eu não sei nem o nome, mas tenho um carinho grande por eles. Oro por cada um. Nunca pude ir na casa deles, não conheço suas famílias, não sei onde moram. Entretanto, todas as quintas e domingo estão lá na igreja para me ouvir. Vocês não tem noção de como isso me alegra.

Estou há mais tempo como pastor do que os anos que fui pastoreado. Aprendi a amar meus pastores não pq me visitavam, mas pelos ensinamentos das doutrinas e das mensagens ministradas. O lar é um ambiente que deve ser inviolável. Por mais que alguns gostem e se sintam felizes e honrados com visitas, isso jamais deve ser uma bengala para nossa vida. Nossos problemas resolvemos sozinhos e o máximo que podemos fazer é ajudar em oração. Leiam 1 Timóteo 3. O texto fala como um pastor deve ser, mas geralmente somos cobrados por itens não listados nos conselhos paulinos. "O Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas". Exatamente. O Bom Pastor Jesus. Eu não sou bom. Nem muito menos Jesus. A religião exige dos seus líderes características ou funções impossíveis de cumprir. E não estou tentando me justificar. A imposição não é só pra mim. A religião impõe. Por que nos submetemos a isso?

Por que nos deram uma falsa esperança ou uma distorcida fé de que se andarmos na linha, de acordo com as convenções pré-estabelecidas chamadas erroneamente de doutrinas, cumprindo com todos os deveres eclesiásticos, seremos, de modo sobrenatural, protegidos dos males da vida. A conduta religiosa ilibada manteria nossos corpos fechados. As janelas do céu seriam escancaradas, os celeiros se encheriam abundantemente e a chuva não deixaria jamais de cair apenas pelo fato de nossas maravilhosas obras populistas com intuito exibicionista serem vistas e aplaudidas. Ora, somos servos de Deus e nada de mal pode nos acontecer. Salomão destrói esse engano triunfalista. O grande sábio desfaz o campo de força imaginário e nos deixa algumas lições no livro de Eclesiastes, capítulo 9.
Tanto faz, meus amigos. A vida não escolhe. Os mais justos podem sofrer bem mais que os ímpios. Ser certinho demais não nos faz escapar das tragédias da vida, nem nos faz prosperar milagrosamente. Aprendam. Isso detona o ser egoísta que somos. Por que a vaga foi dele e não minha? Por que aconteceu isso comigo e não com ele? Isso é revoltante. O mundo é injusto. Seria bem mais prático Deus vingar os justos e mandar sete demônios destruírem a vida daquele que nos persegue, dos nossos inimigos. Que aterrador, não é? Que desejo cristão!!! A religião nos promete proteção exclusiva. Desculpe decepcionar você. Estamos sujeitos aos mesmos problemas, às mesmas dores de barriga, aos mesmos acidentes, ao mesmo desemprego que todas as pessoas da terra. Se alguém alguma vez te disse o contrário, estava enganando você ou estava propriamente enganado. O menino bonzinho que sempre ganha presente no Natal é uma lenda tão verdadeira quanto o Papai Noel. A verdade é que todos morreremos um dia. Não podemos escapar disso. Por que então ter a pretensão de achar que podemos escapar das outras tribulações?

Há esperança para os vivos. Por mais que saibamos que o mundo é injusto, que os bons nem sempre vencem e que mesmo sendo "filhos do dono" não temos privilégios em detrimento às outras criaturas não gospel, a vida nos dá direito de escolha. E a melhor escolha que podemos fazer é viver. Ainda estamos vivos. Podemos sonhar, amar, planejar, chorar, se aborrecer, sorrir, correr, nadar, voar. Sim, podemos voar. Podemos adorar a Deus e flutuar. Romper as barreiras interdimensionais e abrir portais para novas experiências. A nossa esperança não se limita a esta vida, já dizia o apóstolo Paulo. Se assim fosse, seríamos os mais infelizes de todos os homens. Há fenômenos acontecendo em outros planos, em outras dimensões. É o que chamamos de mundo espiritual. Isso é fato.
Entretanto, o sábio Salomão é categórico em afirmar que essa vida, a material, a dessa dimensão, deve ser vivida e bem vivida, simplesmente pelo fato de estarmos vivos. Os mortos não tem lembranças. Nós ainda podemos trazer à memória o que nos pode dar esperança. Como é bom ter esperança! Que maravilha poder se sentir vivo.
"Vai, come com alegria o teu pão e bebe com bom coração o teu vinho". Esse é o conselho. O problema não está naquilo que você come ou bebe, mas em como você faz isso. Se te faz bem, vai em frente. Se joga. Claro, se isso te faz bem de verdade. Nosso coração deve ser bom. Se você ainda sente seu coração meio petrificado, seria uma boa opção trocar por um coração de carne. Isso mesmo. Coração de carne. Quer ser de Deus? Seja humano. Há pessoas que realmente não são.
Que sejam alvas as tuas vestes sempre! Perfeito. Vista-se como se fosse a uma festa. Cuide de você. Fique cada dia mais bonito, principalmente tratando o seu interior. Podem achar que é um escape para os feios, mas a maior parte da sua beleza está concentrada em sua simpatia e na forma como você encara a vida. Nunca esqueça. Deus tem prazer no nosso prazer. Cada dia é um presente, uma dádiva. Tire o máximo de cada dia, mesmo sabendo que nem sempre tudo vai dar certo.


O sábio rei Salomão contou uma pequena ilustração. Certo dia, uma cidade estava cercada por um rei inimigo e seus exércitos. Todos estavam com medo e presumiram a derrota e a provável escravidão de todos os habitantes daquele lugar. Até que um pobre sábio da cidadezinha teve uma ideia fantástica, uma estratégia para salvar o seu povo. Os moradores seguiram o conselho do humilde sábio e conseguiram fazer com que o rei fosse embora, livrando assim aquele povo da destruição. Por causa do pobre sábio, o povo estava livre. Durante as festas e comemorações, ninguém falou do pobre sábio. Ele não recebeu medalha, nem aplausos. Não virou nome de rua, nem conseguiu um cargo na prefeitura. Foi simplesmente esquecido. As pessoas estavam vivas e livres devido ao que o humilde homem tinha feito. Contudo, ninguém se lembrou. O sábio continuou vivendo da mesma forma como vivera todos os anos. Ele não valorizava o poder, mas sim sua sabedoria. Continuou sendo o que era, um pobre e humilde sábio. Jesus não deixou de ser Jesus por causa de Judas. A ingratidão não deve nos moldar para o fenômeno chamado "to-nem-aísmo" Por mais que a gente espere retribuição, nem sempre vamos ter. Por mais que esperemos consideração, nem sempre vamos ter. Por mais que esperemos gratidão, nem sempre vamos ter. Desde quando o importante é o que vamos ter? O importante deve sempre ser o que vamos ser. Seja você. Deus te ama assim mesmo. Fim de ano? Fim de que? Fim? Sempre há uma vírgula. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário